Fragmento do Torcicologologista, Excelência:
- Gosto muito de bater na cabeça das pessoas com uma certa força.
- Gosta?
- Sim, agrada-me. Dá-me prazer. Uma pessoa vai a passar e eu chamo-a: ó, desculpe, Vossa Excelência?!
- E ela, a Excelência, vai?
- Sim. Quem não gosta de ser chamado à distância por Vossa Excelência? Apanho sempre, primeiro, as pessoas pela vaidade… é a melhor forma.
- E quando a pessoa-Excelência chega ao pé de Vossa Excelência, o que acontece?
- Ela aproxima-se e pergunta-me: o que pretende? E eu, com toda a educação e não querendo esconder nada, digo: gostava de bater com certa força na cabeça de Vossa Excelência. É isto que eu digo, apenas. Nem mais uma palavra.
Este criativo autor já tem o Nobel prometido, está só à espera da oportunidade. Por isso dedica-se a criar com a energia que está à vista.
O encenador segue-lhe as pisadas, com uma notável economia de meios.
O resultado é uma coisa que se não traga mais que meia hora, lamentando muito o soninho que se perdeu.
Ressalva-se a excelência dos actores do Calafrio, que levam a tarefa a sério.