sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Brilo

Num arroio corria um grutcho de água, havia funcho e ervas nas paredes. E em redor uma vinha que já não existe, e que nós guardávamos dos ciganos quando as uvas começavam a pintar.
Os coelhos dormiam a sesta nos buracos da parede, e nós dávamos-lhes caça com a ajuda dum cachorro que não queria outra vida, sempre atrás de nós.
Lá ao longe, à raiz dumas fragas medonhas, havia campos de milhos com melancias escondidas na terra, e um afloramento de quartzo e de cristais de rocha. Alguns eram azuis e outros verdes, e havia uns transparentes a que chamávamos brilo.
Não sei quem trouxe para ali um nome assim. Mas foi dito que servia para fazer as asas dos aviões. Quando passavam, brilhantes, lá em cima.