quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Ohey Silver!

(A propósito de imagens muito antigas da Tágide)
« (...) Um dia, por alturas de Sete Rios, uma velha para aí de vinte ou quarenta anos colocou a mão sobre a minha, no varão, e encostou-me a coxa à cintura: continuo a recordar o seu perfume de verbena e a sentir-me tão grato: a coxa o tempo inteiro a fazer pressão e a abrandar, os dedos devagarinho nos meus. Nem me mexi. Saiu no Calhariz, não tornei a vê-la mas o seu calor continua. Se calhar não se destinava a mim, destinava-se a Cisco Kid. Durante semanas rondei o Calhariz na esperança de a encontrar numa janela de rés-do-chão, quase tão bonita como as actrizes de cinema, a chamar-me. Para o caso de me supor Cisco Kid treinei o sorriso dele em casa e de quando em quando, a espiar os prédios, dizia
- Ohey Silver
(o meu cavalo)
baixinho. Só me faltavam o bigode e as botas de montar e embora eu quase completo a actriz de cinema nada. Até hoje. Dizem que o tempo cura a saudade: posso garantir que não é certo. Aqueles dedos. Aquela coxa. Aquele perfume. E eu de calções
- Ohey Silver
à procura. (...)»