Da gangrena segurista.
"Num bairro da zona oriental de Lisboa, a Farmácia Marvila está rodeada pelo "baixo poder de compra de uma população pobre", diz a proprietária Isaura Martinho. Com a quebra acentuada nas vendas, a partir de Junho último, a farmacêutica – recém-divorciada – sentiu-se obrigada a cortar no subsídio de férias e no seu próprio salário. A margem de lucro desapareceu. "Vou chegar ao final do ano com saldo negativo", estima. As perdas de 25% nas vendas obrigaram a dispensar funcionários. Acontece que esta farmácia é familiar: Isaura e os três filhos – Jorge, de 30 anos, Adriano, 25, e Rui, 22 – dependem exclusivamente desta fonte de rendimento. "Não sei o que seria de nós se eu não tivesse dispensado duas pessoas – e um deles é meu filho, o Adriano, que acaba este ano o curso de Farmácia e está menos dependente do salário". Jorge conta que "antigamente via a profissão de farmacêutico com estatuto junto da sociedade, perspectivas de estabilidade e até de crescimento profissional. Hoje, já não é uma aposta segura". Acontece que os dois irmãos estão a terminar o curso de Farmácia. "Estou numa agonia só de pensar como é que os meus filhos irão constituir família com esta actual situação... Tenho um apartamento para pagar e penso que será lá, na minha casa, que eles vão continuar a viver", confessa Isaura. Na farmácia já reduziram as luzes acesas e até desligaram o monitor informativo da montra. Em casa, as despesas fixas de 1500 euros vão obrigar, provavelmente, a desligar a TV por cabo. Mas num bairro onde todos conhecem a farmacêutica, Isaura não dispensa as couves e os ovos que lhe oferecem alguns clientes, como gratificação."
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