A imagem mais antiga que sobre o tema guardo no arquivo vem dum tempo em que ainda não havia os pesticidas agrícolas que chegaram da América, e a coberto da produtividade dizimaram no quintal os bons e os maus. Os pintassilgos, esses, vinham às revoadas, e escondiam pelos buxos altos os ninhos onde mimavam os filhos. Eu passava o tempo à cata deles, e nunca vi coisa mais aconchegada.
Quando ficou doente a professora, passei toda a primavera a caminho da Torre, onde fui acabar o ano lectivo. A estrada velha já teria os seus mil anos, vim a sabê-lo depois. E custava uns três quilómetros à ida mais outros tantos à volta.
Foi assim que descobri na ribanceira um ninho de perdiz, tinha lá dentro uma boa dúzia de ovos, um verdadeiro tesouro. Todos os dias eu ia analisá-lo, ao fim da tarde, e andava todo contente. Um dia descobri, no túnel de acesso ao ninho, um objecto estranho. Era um pêlo do rabo dum cavalo, enrolado numa laçada redonda. A perdiz, que não dormia em serviço, acabou a enjeitar o ninho. E eu fiquei inconsolável mas depois passou-me.
Há dias fui encontrar, na brancura recente dum canto do alpendre, a balbúrdia atarefada dum casal de andorinhas. No primeiro momento protestei, contra a lama, o palhiço, os múltiplos dejectos, contra o que me pareceu aquele eixo do mal. Pus-me a pensar numa retaliação mas logo claudiquei, era política reles. A história anda aí a abarrotar de eixos do bem que deram mau resultado.