sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Fomos ao rio de Meca - 6

(...)
Quando o café estava amontoado em cima do camião, trocados os angolares, ninguém falou uma palavra. Os monangambas puseram-se a puxar o oleado de um dos camiões. A música do Congo derramou-se da caixinha do altifalante, inundou o terreiro, enrolou-se nos ramos verdes das mangueiras. Um branco vermelho começou a dar as suas ordens gritadas, montou as tábuas do pipo do vinho azedo do calor, estendeu panos, ia mostrar as suas bugigangas. Foi quando a gente toda da sanzala retirou em silêncio para dentro das cubatas. O terreiro ficou deserto, a música do Congo derramava-se no ar vazio.
O branco vermelho estranhou tão grande quietação. Olhou em volta, soltou uma praga, viu o sinal da mão do chefe da polícia. Contrafeito, fez calar a música, guardou as bugigangas, mandou apertar os oleados.
Os camiões arrancaram, impacientes, faziam tremer o chão. Uma nuvem de pó envolveu as cubatas, subiu acima das mangueiras altas. O branco vermelho passou, irado, fazia ganir o motor. Sôr Antunes ria na cabina, o braço levantado à despedida do chefe. Negro Paulino, sozinho nas grades, riu também, satisfeito com a sua gente.