terça-feira, 5 de junho de 2018

O marrafinha

O pai tinha partido para a África longínqua, a cumprir um destino que era o mesmo, desde há séculos. E nunca mais deu sinal de vida. Os três ganapos ficaram nas mãos da mãe, que era tecedeira, e pouco tinha para lhes dar além da fome.
O garoto foi servir como pastor para uma aldeia distante, e a patroa aviava-lhe a merenda numa meia das dela. Ele aguentou-se algum tempo. Mas um dia fartou-se, abandonou o gado e regressou a casa. Chegou ao fim de três dias.
Alguém o encaminhou para Matosinhos, onde foi servir de marçano numa loja. E tudo quanto podia mandava-o para casa, para ajudar a mãe e os irmãos. O tempo em que ele próprio ensaiaria as aventuras de África ainda vinha longe. Mas já estava traçado.