terça-feira, 26 de junho de 2018

A casa nova

" Mas quem sabe de emigrações em França é o senhor Primo. Não seria ele o caso, mas havia menino que fazia negócio dos patrícios, encalhados ali em Champigny, na maior das misérias. Sem poiso nem dinheiro, sem conhecer da língua uma palavra, dispunham-se a pagar o que não tinham só para arranjarem trabalho. Outros vinham a Portugal e faziam-se correios, traziam dinheiro em mão para as mulheres dos colegas. Muita vez eram roubados no caminho, ou assim se fazia constar, o dinheiro é que nem sempre aparecia. (…)
A dada altura terão virado os ventos, que o homem desapareceu por muito tempo. Até que numa noite apareceu a arder a casa branca. E quando o tribunal mandou arrestar tudo por causa duns calotes. amanheceram dinamitadas as paredes. São estas as pedras de armas que aqui se hão-de abrigar, quando lhes chegar o dia.
Lá em baixo, num cabeço à margem do lençol de água, reconhece o viajante um cramoiço de pedras. Já foram casa onde gente morou, já prometeram ser um lar de velhos, agora são as ruínas do sucesso moderno, perdidas na paisagem. O viajante fica a olhar o jazigo vazio, e o azul do horizonte no espelho das portadas. Razão tinha quem disse que esta vida é uma feira, cada um vende nela o que tem para vender. (…)