segunda-feira, 21 de maio de 2018

Miragens

"Era para a Coroa de um milhão de cruzados o produto da especiaria em cada ano, livre do custo e de todas as outras despesas, incluindo nestas as perdas marítimas. Mas todo esse dinheiro gastava o rei D. Manuel com o seu fausto particular e com o que dava loucamente a uma multidão de parasitas, que acorriam à capital de todos os pontos do reino.
Apesar de toda a riqueza da pimenta, a administração financeira era sempre deficitária. Todos em Portugal procuravam viver do comércio da Índia, directa ou reflexamente, por intermédio do monarca. O dinheiro era dado à aristocracia, e passava desta aos estrangeiros, a quem se compravam todas as coisas. O Transporte, pois, destruía a indústria do país, em vez de ser, como conviria, o fomentador da sua indústria, pela fixação da riqueza do trabalho nacional. Os portugueses traziam à Casa da Índia os produtos orientais, e os navios estrangeiros vinham buscá-los a Lisboa. Mais tarde os holandeses não procederam da mesma forma, ao despojá-los do monopólio. (...)
Os portugueses tomavam para si a parte difícil, arriscada e dispendiosíssima, do trabalho do Transporte, deixando aos outros o melhor proveito. (...)"