sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Paisagem

A neve, que há muito não aparecia, marca a paisagem da Lapa nas encostas. Há estradas cortadas nas serranias, planos que se alteram, tarefas que se adiam. Mas nem todas são notícias más.
O Coelho, que só falava ovimbundo quando chegou há anos do sertão, agora já se entende em português. O Relvas e o Marco António, que estariam por aí pintados em cartazes do farwest se os magistrados do ministério público não andassem a dormir, levaram-no ao governo. Não sem antes disso transformarem num deserto o velho PPD, do Sá-Carneiro, do Balsemão, do Magalhães Mota, do Amaral dos Açores, os tais a quem o poder caiu nas mãos e os veio arrancar ao sono da ala liberal.
Os trunfos que o Coelho apresentava eram a boa gestão da Tecnoforma, num tacho arranjado pelo Ângelo Correia que hoje tem vergonha dele; e os milhares de técnicos futricas de aeródromos que só existiam na contabilidade do Relvas, esse ilustre secretário de estado que Portugal teve um dia. Até o Passos engendrar um governo do PPD e mandar em Portugal durante uns anos. 
O governo era um bando fantoches, de sipaios ignorantes, que também vieram dum sertão para desgraça do país: era ele a ministra da justiça, uma bêbeda que pôs os tribunais num caos, se os juízes não bastassem para isso; era ele a ministra das finanças, uma ignorante radical da escola de Chicago que abanava o rabo aos donos da Europa, e nunca acertou num orçamento rectificativo dos inúmeros que fez. O Moedas, esse alentejano triste, servia-lhes de correio. E o Portas, único espírito ilustrado que colaborou na festa, mandou-os apanhar nos entrefolhos logo que lhe foi possível, e foi governar a vida. O Cavaco, esse rústico de Boliqueime, trancou-se na marquise do Possolo, arredondou o orçamento e deixou-os andar.
Nem os maus ventos que hoje sopram da América salvam esta tropa desqualificada. E a neve que branqueja na paisagem vai passar.