Era um gato preto longilíneo, sabedor, uma estampa de felino. Vivia com o irmão num terceiro andar. O irmão era mais curto e descuidado, não conhecia requintes de higiene. Ele ensinava-o, lambia-o, cuidava dele.
Os dois corriam em brincadeiras casa fora. E um dia passou a porta da varanda do 3º andar, atravessou a grade sem que ninguém saiba como, esbracejou no ar e estatelou-se na rua sem cair de pé. Acabou a morrer nas mãos da veterinária, todo partido por dentro.
Ao irmão faltou-lhe a companhia, ele compensou-a com uma bulimia sem controle. Engordou desmesuradamente, um rim entrou-lhe em falência, o pâncreas desregulou-se. O gato não vai durar. Nada é próprio dos humanos, que os gatos não conheçam há milénios. Até os males de amor.