terça-feira, 29 de maio de 2012

Epifania

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No largo não há vivalma, na aldeia será igual. Mas para alvoroço deste viajante, tão reflexivo e cismador ele é, os símbolos todos dela não se ficam pelo João. Debaixo daquela arcada, à beira do valado, tem ele à espera a surpresa maior. É uma Nossa Senhora dos Sonhos, entalhada numa pedra, de mãos postas e capucha serrana, no pedestal duma cama. Cercam-na rosas, e velas votivas, e grinaldas verdes que tapizam a gruta.
Este viajante não sabe o que há-de fazer da emoção que o tomou. Não conhece os predicados desta santa, nunca a viu com este nome, nem lhe imaginava título mais iluminado. Mas cercam-na rosas, e velas votivas, e grinaldas verdes… mais parecem ecos de lira pagã. Até que uma voz aparece a invocar a Nossa Senhora das coisas impossíveis que procuramos em vão / dos sonhos que vêm ter connosco ao crepúsculo
Afinal novidade não havia, só a grande bruxaria da poesia! Não era o Reis, era o outro mafarrico. Mas a Senhora dos Sonhos há muito já que existia.
O viajante fica ali tempos infindos, a viver a sua epifania, acaba a converter-se ao paganismo. E quando parte é mais um doutor da igreja, nas matérias da fé e na ciência das religiões, no entendimento do mundo e dos homens que andam nele.
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