terça-feira, 21 de julho de 2009

O pólo aglutinador

Dizem do Porto que é a segunda cidade do país, a capital do Norte. E que há-de ser mais do que isso! Quem lá chega, vindo de autocarro, vai parar à garagem Atlântico. Passa a duque de Loulé, onde metade das janelas já foram entaipadas. Fechará os olhos na Alexandre Herculano, se os perigos de derrocada o assustarem. E quando voltar a abri-los já parou no destino.
A garagem Atlântico é o vestíbulo de entrada, para quem ao Porto chega deste modo. E algum motivo há-de haver, para que a cidade receba o visitante num galpão deste calibre. É uma gruta pré-histórica a cheirar a gasóleo, onde só se recomenda entrar de máscara, com precauções de espeleólogo. A armação do tecto faz lembrar instalações industriais dum tempo muito antigo. É feita em vigas de ferro, cobertas de ferrugem, já vem do tempo da guerra. Os motoristas fazem o que podem para arrumar lá dentro os paquidermes. E o viajante há-de encontrar saída num corredor esconso, ao longo dum tabique de contraplacado, que o protege, mesmo assim, duma trombada iminente.
As forças vivas do Porto nunca foram de excursão a Vigo. Nunca visitaram Salamanca, nem outras aldeias espanholas. Por isso não se envergonham desta decadência. Contam-se nelas empresários míticos, criadores avulsos de riqueza, e autarcas que não desistem de fazer desta cidade o pólo aglutinador do Noroeste Peninsular. Para isso cultivam coutadas de excelência.
Mal chega Julho, afadigam-se a montar o circo da Boavista. Privatizam a avenida, interditam acessos a moradias, metem num inferno os moradores. Riscam no chão sinalefas transitórias, protegem com pneus velhos as curvas mais expostas, montam bancadas portáteis na recta da meta. Aos eleitos distribuem vouchers que dão acesso ao paddock. E abrem à populaça as bilheteiras, entontecida pelo roncar das máquinas, pela fumaça dos travões, pelos ratés dos motores, do tempo em que os motores eram a sério.
Tudo isto para alavancar a imagem da cidade, e dar que falar ao mundo. E porque o seu presidente tem saudades da infância, e padece de incuráveis nostalgias. Ah, os velhos turismos clássicos!
Alguns idealistas embirrentos insistem que esta cidade anda a merecer melhor sorte. Não se dão conta de que o senhor Presidente caminha para as eleições com 60% de votos prometidos.