domingo, 11 de janeiro de 2009

O Roque e a amiga




Estão ambos ali ao cimo da avenida, há um ror de tempo, a quezilar. Nos dias de calor sonham com o lençol do rio, que passa lá ao fundo. Sempre traz uma frescura e lembra-lhes o mar, e o mundo para além dele. Fora disso contentam-se com a baixa pombalina, que lhes dormita aos pés.
Um tem formação romântica e espírito clássico. Recolhido nas abas do capote, hierático e definitivo, parece um rei de pedra, dos antigos. Bem pode o mundo quebrá-lo mas não o torcerá, porque a razão não deixa.
O outro tem formação clássica e um coração romântico, e uma alma que não se lhe confina nas arcadas do peito. Traça no ombro a capa esvoaçante, e avança para o mundo de cabeça erguida, de barbicha à dandy, gaforina ao vento. O génio todo está no sentimento.
Sempre que passo ali, eu bato-lhes à aldraba e empurro a cancela. Para saber quando resolvem a disputa.