Ele precisava dum cão para lhe guardar o quinteiro. E foi o Chico Preto que um dia lho arranjou. Ele prendeu-o numa argola antiga e lá o deixou ficar, a mulher tratasse dele.
Nas férias do Verão o cão via um de nós e parecia que chorava. Gania que era uma dor de alma. Quando o soltávamos, corria desvairado e atirava-se à água fria do tanque.
Até que viemos a descobrir que a água fria era para ele um refrigério. E que ele nos proibia de o soltar por selvajaria pura. Porque o cão vivia rodeado de pulgas que já cobriam o chão e ameaçavam afligir as pessoas.
Mais tarde ele meteu o cão na camioneta, chegou à estrada da quinta dos areais, uma lonjura, e abandonou o pobre, que assim se libertou.
Ando a ler os processos de Moscovo, do cabrãozinho do Stalin, há cem anos atrás. E ele há diferenças entre uma coisa e outra. De quantidade, mas não de qualidade, que a paranóia é a mesma.