«Esta conclusão está contra muitos filósofos da Antiguidade que disseram que o nosso espírito era corpo. Zenão, que era fogo, Anaximandro, Anaxímenes e Anaxágoras, ar. Seguiu-os, por acaso, Varrão, que escreveu assim: a alma é ar produzido na boca, cozido no pulmão, aquecido no coração, difundido no corpo. Também Hipácio e Parménides supunham a alma fogo, Empédocles, sangue, Crítias, composta de sangue e de humor. Porventura imita-os um poeta latino, quando diz que ela exala jactos de sangue.»
«Daqui a razão por que, estando a língua doente, uma vez atacada a zona que sofre de bílis amarela, ainda que se aproximem do exterior coisas gostosas e providas de óptimos sabores das quais ela recebe as imagens, ela não as sente, porque aquele sabor que se fixou, que primeiro ocorre ao paladar, reclama para si todo o empenho da faculdade perceptiva. De tal modo costuma acontecer assim, que não é apenas o mesmo sentido que é levado para os outros sensíveis que se lhe oferecem, mas todos os restantes, a serem também levados para os seus objectos, sempre que a alma, para perceber algo, se aplica com tanto esforço e intenção, que não fica disponível para perceber outras coisas.»
«Apresentam-se-nos, primeiro, duas opiniões sobre o nascimento das almas. Uma, dos que afirmam que elas se reproduzem a partir duma semente. (...) Outra, a dos que consideraram que as almas foram criadas, não por Deus, mas pelas inteligências. (...) Logo, existe um agente físico, que gera a alma racional. Este, porém, não pode ser outro senão o pai, que com a potência da semente faz surgir a alma a partir do interior da matéria. Portanto, a alma racional é propagada pela potência da semente. Outro, os restantes animais fazem nascer as formas da sua descendência da potência da matéria, mas o homem não deve estar numa situação de condição inferior. Logo, a alma humana é produzida pelo próprio homem. (...) Eis os argumentos a favor da opinião dos que defenderam que as almas dos homens são produzidas pelos anjos. (...)»
«Mas concordam em que a alma é infundida logo que o corpo esteja perfeito e formado com os órgãos que são próprios à prole humana, o que alcança enquanto não é de tamanho maior do que aquele que é próprio da maior formiga (...). Todavia é mais comum e verdadeira a opinião de que, nos machos, a obra se encontra concluída por volta do quadragésimo dia, nas fêmeas, do octogésimo. O que se confirma da melhor forma porque, na velha lei, se a mulher parisse um macho, ficava em casa quarenta dias, se uma fêmea, oitenta dias, e deixava de entrar no templo. Na verdade, os intérpretes das palavras divinas dizem que este número foi prescrito para imitação da natureza e do tempo em que o corpo se forma no útero.»
«Colocadas assim as afirmações, respondemos à questão suscitada no início. A alma intelectiva é infundida e unida ao corpo no instante em que, primeiro, pela matéria e pela forma dos membros, e pelos restantes acidentes exigidos por essa forma, foi provida e disposta, o que costuma acontecer à volta daquele dia que dissemos há pouco. Todavia, o corpo de Cristo, nosso Salvador, não observou no útero da Virgem Mãe esta lei da formação sucessiva. Na verdade, o que o período de quarenta dias, pela potência da natureza, aos poucos devia formar, foi absolutamente concluído num momento, pela potência divina e por obra do Espírito Santo, como é doutrina comum dos Padres e dos professores de Teologia Escolástica.»
Do que eu ando muito precisado é de um técnico que saiba aplicar correctamente o isolamento térmico nas paredes duma casa. O mestre-de-obras não sabe. E talvez ele o soubesse, não tivéssemos nós sacrificado, em séculos, o melhor da inteligência a estas miudezas bizantinas. Talvez até nem houvesse este utente da Sonora, que é invisual e amador de labirintos metafísicos, e desconhece quanto custa o tempo alheio.
Gastaram-nos a vida em escolásticas. E agora temos que aprender a vida à pressa, supondo que ainda há tempo.