quinta-feira, 29 de julho de 2010

Estiagem

Esta canícula maluca, e os fogos que entretanto regressaram, trazem-me à lembrança os "secos e molhados", por razões de analogia e de contraste. Uns polícias a malhar noutros polícias, perante um rei atónito de bronze, e um terreiro do paço envergonhado.
Eram os tempos do ministro Dias Loureiro, a mais fina flor do cavaquismo, modelo maior da livre iniciativa e bicho de sete ofícios. Ah, homenzinho duma cana, é destes que à pátria fazem falta!
Escrevia os discursos do caudilho à custa de horas de sono, foi ministro das polícias e banqueiro, e cavalheiro de múltiplas indústrias, e lobrigou tecnoclogias de ponta numa ilha de indígenas que não vem no planisfério, e não se acobardou com traficantes de armas, e por pouco não reconquistou as praças de África, e andou na caça com el-rei de Espanha, e subiu na vida a pulso como a lei ordena, e traçou os rumos da protecção civil, e investiu forte no combate aos fogos, quando os fogos não paravam de crescer. E ainda lhe sobrava tempo para regressar às origens, a serões de bisca no país profundo, no salão dum mafioso que lhe servia whisky do melhor.
Dizem que agora vive em Cabo Verde, num resort que lá tem. É forte prejuízo nacional! Ele é dos que a pátria a muito custo dispensa, há tantos séculos sujeita a lavar-lhes os pés.