Um alferes artilheiro numa base aérea não trazia vantagem que se visse. Mas este era apreciador de música e estava atento às notícias. E assim eu soube que, no domingo, a Olga Prats e o Pizzamillo davam em Carmona um recital.
O que faria um jeitão era o comandante da esquadra dispensar-me um Auster. Muito mais fácil do que fazer de jipe cinquenta quilómetros para lá e outros tantos para cá. É certo que a passarola não tinha sequer o painel iluminado, quanto mais ser capaz de fazer voo nocturno. Mas porém... E eu lá fui, depois do almoço.
As coisas correram bem, com ganhos múltiplos. Porém, sendo tão cedo, resolvi eu fazer uma visita a uma cinturinha de vespa que conhecia na cidade. E assim o resto da tarde se escoou num ai.
Quando dei por mim caía a noite. Despedi-me à francesa, corri a apanhar um táxi e fui para o aeroporto. Meti-me na passarola, dispensei procedimentos, rolei para a pista e descolei de seguida. Durante a subida, ainda acendi o isqueiro para ver a pressão do óleo. À minha volta era tudo escuridão.
A minha referência principal eram as luzes dum carro ou outro, lá em baixo, na estrada. E eu lá fui, sempre a subir, confiando que o motor fizesse a sua parte. A certa altura comecei a ouvir no rádio chamadas insistentes da torre de controlo do Negage. Eu respondi, com um tempo estimado em rota muito escasso, para acalmar o pessoal.
Às tantas lá vi ao longe uma pista iluminada e pude respirar fundo. Afinal a passarola não fazia voo nocturno mas era o tanas! Benzi-me, falei para a torre e fiz aproximação directa.
O mecânico orientou-me na placa, tinha um ar preocupado. E eu corri para a esquadra, onde o chefe me aguardava. Não me restava outra coisa que não fosse pôr o cachaço no cepo.
Foi assim que o desarmei. E lá fomos todos, cada um à sua vida. Ao ninho.