sábado, 28 de outubro de 2017

Ó marreco, olha o sonoro!

Era um tempo tão antigo que ainda havia dinossauros excelentíssimos. Nós éramos tão novatos que nem idade tínhamos para ir ao cinema. Por isso mostrávamos ao polícia as cédulas de amigos mais velhos, que atirávamos do segundo andar até entrarmos todos.
Subíamos para o segundo andar porque era mais barato. Por baixo havia o primeiro, o dos burgueses, e lá em baixo a plateia.
Os filmes eram projectados lá de cima, numas bobines enormes que faziam o que podiam. As fitas é que partiam muitas vezes, e a bobine lá ficava a rodar em seco, sem imagem nem som, enquanto o operador não dava conta.
Se ele tardava, ouvia-se uma voz: - Ó marreco, olha o sonoro!
A gargalhada era geral. Mas o cinema era assim, com actualidades do António Ferro lá pelo meio.