quinta-feira, 17 de março de 2011

Mais vale tarde... 7 - Léon Blum e o Front Populaire

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Léon Blum entrou para as fileiras socialistas já tarde na vida. Nada, na sua mocidade e primeira madureza, parecia predestinado ao papel que foi chamado a desempenhar mais tarde. Vinha daquele meio de estetas desprendidos e snobs literários, cujo pontífice era Marcel Proust. Mas os safanões do affaire Dreyfus fizeram-no despertar, como aos seus confrades Romain Rolland e Paul Painlevé. Teve a revelação uma noite em que passava pelos pardieiros do Faubourg St. Martin (ainda hoje uma zona empestada) e viu a sórdida miséria em que vivia a massa do povo. (…)
Polemista brilhante, de inatacável integridade intelectual, (…) Léon Blum não era um chefe. Pelo espaço de alguns meses, as massas do povo francês acharam-se de tal modo dispostas que o teriam seguido cegamente. A sua confiança em Léon Blum era absoluta, pateticamente absoluta. E todavia, quem quer que houvesse observado de perto a conduta de Léon Blum nos grandes meetings e demonstrações políticas, teria notado o mal-estar que lhe sobrevinha em presença do povo. Em público, Blum revelava uma timidez quase feminina. Enfrentar uma daquelas enormes multidões na Place de la République ou no Vélodrome d’Hiver, era-lhe evidentemente um suplício. Quando via erguer-se para ele meio milhão de punhos cerrados, fazendo a saudação antifascista, ficava tão perturbado e trémulo como o mulheril André Gide. Nunca teve a coragem de corresponder à saudação, erguendo também o punho. (…)
Nunca encontrei um homem que fosse tão profundamente sensível aos pesares dos outros, e ao mesmo tempo tão despido de ambição pessoal. Falava no povo e na sua causa com uma ternura quase evangélica, e até quando a sua voz se fazia dura, como deve ser por vezes a voz dum profeta, era aquela a dureza do coração amante. (…) Era um organizador teórico, e não um construtor. (…)
Quando teve de encarar as responsabilidades do governo, Léon Blum começou a tremer e encheu-se de hesitações. (…) Foi a sua irresolução que fez apagar-se essa luz. Naquela ocasião em que o sistema capitalista havia demonstrado a sua impotência em prover às necessidades materiais do homem, naquela ocasião em que o socialismo teria vogado de vento em popa, Léon Blum pôs na defensiva o movimento socialista na França. Não que duvidasse do povo, mas tinha medo da vida. A realidade era dura e severa: os seus colegas socialistas de ministério haviam trocado simplesmente o ideal por um par de calças listadas e o título de Monsieur le Ministre. (…)
Ele hesitava porque, conhecendo a fraqueza da classe operária francesa, e vendo a atitude assumida pela burguesia internacional ante a questão espanhola, previa uma luta mais dolorosa , mais horrível ainda do que aquela que assolava a península ibérica. Tinha medo de enfrentar a derrota. “Devemos defender a democracia pura e simples”, acrescentou, como se a democracia que nós temos fosse uma democracia de verdade, e como se se pudesse estabelecer sem lutas a verdadeira democracia.(…)