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O primeiro orador é um artista português. Debita um par de noções elementares sobre a eutrofização das lagoas dos Açores, fala do pico do petróleo e nos limites do crescimento, cita os malefícios da suburbanização e da fordização da sociedade. Discursos consensuais. E acaba por desvendar o seu projecto de capital dum país do futuro, um grande estuário estimulado pela utopia dos jogos olímpicos de 2020, que haverão de ser os primeiros jogos pós-carbónicos.
O segundo orador é um físico judeu, que parte do big-bang original até chegar ao microcosmos dos protões, feitos de quarks ligados por gluões. Revela ao auditório sonolento a descoberta dos quasi-cristais, que possuem natureza quasi-periódica. Verdade ou não, o viajante não o sabe. Nem conhece, neste vasto mundo, ninguém a quem isso interesse, muito menos em Trancoso, ou no auditório que o cerca. Mas o cientista já se aproxima do fim, e termina com uma incursão, quem sabe se pertinente, ao campo dos números irracionais.
O orador seguinte vem da América, é especislista em novos meios e revoluções editoriais. Para economizar papel, lê a cansativa intervenção num ecrã de computador, e ao viajante parece isto, finalmente, um escrúpulo a registar. Fala de livros, da rede, de mercados e de comunicação. Porém muito vagamente, que a tradução simultãnea claudicou.
A seu tempo abandonou a plateia um marquês bem conhecido, anfitrião de lúcidas tertúlias, que veio do seu palácio em Lisboa atraído pelo rumor das propostas. Pôs-se ao fresco e não sabe o que perdeu,que à chegada do crepúsculo vai faltar à vernissage. Na vastidão das paredes da igreja do convento há uma instalação dum criativo inglês. A propósito da água, esse líquido precioso, e dos seus aspectos físicos, simbólicos e espirituais, há imagens vagas dum feto na bolsa de águas, um banhista às voltar numa piscina, e uma sequência de fotos dum galã americano a metamorfosear-se em boga.
Escapando a intervenções de cientistas avulsos e dum antropólogo indiano, o viajante seguiu o exemplo atilado do marquês,deu às de vila-diogo. E só tornou ao fechar dos trabalhos, para ver como acabava aquilo tudo. Um velho arquitecto português quis saber como é possível redesenhar a humanidade, se o rpincipal dos orçamentos dos governos vai para as armas e as guerras.
Um engenheiro brasileiro jurou que na sua terra estava tudo preparado para a nano-tecnologia, só o eqilíbrio do mundo os mantinha sossegados. Vindo embora do país que deu ao mundo os camponeses sem-terra, assegura que há nele terra bastante para afectar aos bio-combustíveis, sem molestar a produção alimentar. E porque era, enfim ,necessário concluir, alvitrou uma figura feminina que ao menos guardassem os pensadores os telefones dos comparsas.
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