quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Ecos da Sonora X

UM ESCRITOR CONFESSA-SE
(E a páginas 329, Aquilino Ribeiro deixa Paris, à chegada da Primeira Guerra Mundial.)

(...) Uma bela manhã despedimos pela Gare de Austerlitz num comboio recoveiro, eu com um filho nos braços. De pé até Bordéus. Chorava Paris, o Paris da minha mocidade, onde só devia voltar depois da guerra. Nunca desejei nada em Paris que não realizasse. Nunca concebi um projecto que não levasse a seu termo. Nunca tive em Paris uma dificuldade que não resolvesse. É uma cidade feita para dar a quota razoável de felicidade aos homens, e todos os seus costumes, todas as suas leis, e toda a compreensão das gentes concorre para realizar este desideratum. Paris de resto formou-me; deu-me imaginação; incutiu-me o culto da beleza; bebi sem chegar às fezes a taça de amor que ali se oferece a quem é voluptuoso; nunca lá adoeci de corpo nem da alma. Se levava saudades de Paris!
Fomo-nos acolher à minha choupana caiada da Beira. Em Medina del Campo inflectimos por Madrid a visitar Velasquez. Raros como Benito Galdós encontrei que tomassem partido contra a Germânia. Ao contrário, em Portugal a França, amado leite, e a Inglaterra, fiel aliada, reuniam o sufrágio dos corações. (...)