terça-feira, 27 de janeiro de 2009

da capo - 22

PARÁBOLA COM BANDEIRA
Era uma vez um país que tinha uma bandeira e um viajante que viajava nele. No país. Um dia o viajante passou numa estrada e encontrou a bandeira do país a ondular, no coruto dum pinheiro. No meio dum pinheiral, ao lado duma aldeia.
O viajante sabia que andava a viajar num país de marinheiros, pois conhecia a história e já ouvira dizer que se haviam feito barcos dos pinheirais do país. Que atravessaram o mar, e fizeram descobertas, e plantaram padrões de pedra nas dunas longínquas. Para tornar grande o país, que era pequeno e pobre.
O viajante, cultor das causas primeiras, lembrou-se disso tudo, quando a bandeira, a ondular ali no pinheiral, o surpreendeu. E ou bem que havia naquela aldeia um marinheiro velho, saudoso dos antigos padrões que deixara nas dunas, e dos feitos antigos... ou era um novo marinheiro, orgulhoso da história, que também quisera agora plantar padrões. A alguma conquista nova, do país pequeno e pobre. Seria um padrão moderno, a bandeira a ondular, concluiu o viajante.
Os meses passaram, e também o viajante muitas vezes passou. Na estrada, ao lado duma aldeia, onde a bandeira continuava a ondular. Primeiro perdeu as cores, que o tempo foi-as comendo. Depois caíram-lhe as pontas, mordidas pelo vento. Por fim ficou um trapo, no coruto dum pinheiro, cansada de ondular.
Os antigos padrões, comidos da maresia, esfarelaram-se nas dunas. Este, que era moderno, picaram-no as gralhas. Destinos semelhantes, a feitos tão parecidos.