quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Fomos ao rio de Meca - 5

(...)
O chefe embatucou, surpreendido. Correu-lhe no semblante um vento de maldade. O soba foi para negro Paulino, severo, aflito, a linguajar-lhe ao ouvido.
- Cala essa boca!!!
A discussão aproximou da cena tudo quanto era branco por ali, estranhando a dificuldade. Assustados naquelas caras e andanças, os monas pararam nas brincadeiras, ficaram de lado, os focinhos aguçados. As mulheres torceram as mãos, temendo a maka.
O chefe largou em grandes passos furibundos, até ao posto. Seguiu-o sôr Antunes, a bufar. Outros brancos foram entrando na casa. A gente ficou ali na sombra, desarmada, as vozes hesitando, laivos de aflição nos olhares. Contrariando o soba, negro Paulino insistia.
- Branco traiçoeiro! A gente vai ficar bem segura na justiça! Oito angolares é o preço justo no café!
Ninguém viu aproximar-se o fardado que chegou junto do grupo, chamou negro Paulino e o levou ao quartel da polícia. Negro Paulino quis saber porquê. O chefe queria falar com ele. No caminho, negro Paulino voltou a cabeça e gritou à gente.
- Oito angolares é o preço justo no café!
Os homens ficaram calados. Havia martírio no que estava acontecendo, o tempo era pesado e lento a passar.
O chefe saiu finalmente, em passadas altivas, sôr Antunes vinha ao lado. Atrás outros brancos mostrando as dentuças.
- Acabou-se a maka! O preço do café é cinco escudos e meio! Quem quiser vende, quem não quiser leva para casa! E é rápido! Isto já durou demais!
Os homens ficaram hesitantes, os olhos baixos. E o soba levantou a cabeça, perguntou ao sô chefe por negro Paulino.
- Esse matumbo ficou à sombra! Para não andar aqui a vender más ideias!
Os olhos da gente subiram, aflitos, até à cara do chefe.
- Buscar o café! – gritou ele.
Foram andando lentamente, o grupo a desfazer-se.
(...)