terça-feira, 27 de setembro de 2011

Campanha para a história (2)

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Não podia participar em operações, assim fora determinado, e ninguém chegou a saber ao certo se ele podia distinguir uma manete do passo, da mão adocicada duma dama da corte. Mas o que ele não tinha era génio para ficar agarrado ao chão. E era frequente vê-lo, de máquina de filmar a tiracolo, numa risada simpática de boa pessoa, pendurar-se nas missões de reconhecimento. Não havia explosivos em questão, a manobra dos aviões era supostamente menos violenta, e um tal tipo de missão permitia observar o terreno mais de perto. Lá ia ele, encostado atrás à tampa de funil do Dornier, câmara em riste e o dedo engatilhado, debruçado nos janelões laterais.
E raros eram os camaradas que resistiam à tentação de lhe colar o diafragma às tripas. Toda a gente sabia como é desconfortável sofrer certas manobras de voo na condição de saco de batatas. E o tipo de missão propiciava a picardia. Andava-se rodando infindamente sobre a mata, observando clareiras, procurando trilhos, tentando violar a intimidade escura do arvoredo. Exagerava-se então na insistência, forçava-se o aperto duma volta, metia-se um pé desnecessário, na esperança de o ver, de entranha revolta, lançar a carga ao mar. Qual quê! Lá ia ele, rubro e alegre como usavam ser as lavradeiras do Minho, enchendo filmes daqueles verdes de espantar.
Meses passados e o príncipe tinha feito o contacto aéreo. Para as deslocações terrestres dispunha ele duma robusta viatura Volkswagen, com uma estranha matrícula da Europa Central. Nunca se veio a saber como tinha aparecido ali, aventando-se que nascera da generosidade de algum reencontrado correligionário. A pintura pouco mostrava já do branco original, coberta por sucessivas camadas do pó vermelho das picadas. Na sua lógica simples, recusava o príncipe as lavagens, porque as camadas de pó defendiam a chapa das violências do sol.
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