sábado, 5 de setembro de 2009
A roda dos expostos
Nada se faria no país sem os fundos europeus. E uma tal realidade não é surpresa maior, se Portugal entrou na Europa na condição de pedinte, para não dizer de náufrago aflito.
Os portugueses não mostram disposição para tomar consciência desse facto e inscrevê-lo no bestunto. O geral dos cidadãos por desinteresse ligeiro, e as elites que os dirigem por atávica falta de vergonha. Mas isso é outra questão que também não surpreende.
Já a filosofia da governação, particularmente ao nível autárquico, além de provocar surpresas, mete medo. A megalomania fantasista e a competição febril ganharam foros de escola. Com raríssima excepção, todo o programa do bom autarca, e tudo quanto pensa do futuro, resume-se a dois pontos: esgotar a capacidade de endividamento e apresentar obra feita nas próximas eleições.
Foi assim que em vinte anos o país apareceu semeado de complexos desportivos que ninguém frequenta, de pavilhões multi-usos que não têm utilidade, de centros culturais que armazenam o vazio, de complexos de piscinas cobertas e descobertas, com saunas e banhos turcos, fugazmente visitadas por excursões escolares. Infelizmente já não falta muito tempo para que tais estruturas comecem a fechar. A um lado por lhes faltar utilidade. E a outro por serem incomportáveis os custos de manutenção.
O município de Almeida parecia uma excepção. Terra pequena, discreta, uma página da história que um dia chegou ali, e ali ficou. Há dias inauguraram as termas da Fonte Santa, que antes faziam milagres num pré-fabricado de madeira. São agora um complexo futurista, que põe em respeito as encostas do Côa. E oxalá não percam a virtude, porque o furo de captação já vai nos 800 metros de profundidade. O caudal é limitado, e chega à superfície a temperatura insuficiente.
O pior, porém, é que já está programado um hotel de 4 estrelas, para albergar os aquistas. Há um ano esteve para fechar a pousada do Pestana, por falta de clientela. Se vier o novo hotel, bem pode Almeida reabrir a roda dos expostos. Para lá entregar à caridade, um dia destes, o orçamento da câmara.