Há guerra na capoeira por causa do TGV, mas não pelas boas razões. Porque a questão fundamental não está em saber se a ligação Lisboa-Madrid deve ser construída ou não. A primeira prioridade portuguesa, quando se fala do TGV, é a ligação à Europa, é a substituição urgente dum Sud-Expresso centenário, tornado hoje impraticável, ineficaz e lôbrego. Ora essa ligação directa à Europa não acontecerá passando por Madrid.
Um viajante que parta de Lisboa (e mais ainda do Porto) para o centro da Europa, mais depressa apanhará um avião, do que um comboio que passa por Madrid, e deriva para Valladolid, e só depois para Irun. A rota directa e eficaz está estabelecida há muito, e passa por Vilar Formoso, Salamanca, Valladolid, etc.
Por outro lado, a linha Lisboa-Madrid serve mais Madrid do que Lisboa. Acentua a centralidade ibérica da capital espanhola. E Lisboa passa a ser mais um dos vértices do polígono ibérico, tal como o são Sevilha, Valência, Bilbau, Barcelona e A Coruña.
Das numerosas linhas de TGV previstas pelos ilustres negociadores portugueses, uma só, e fundamental, lhes escapou: era a que ligaria o país à Europa. Esse equívoco deixou aos espanhóis o campo aberto para não construirem nenhuma via de alta velocidade entre Valladolid e a fronteira de Vilar Formoso.
Ligar o Porto a Vigo, e Faro a Huelva, e Lisboa a Madrid e mesmo Lisboa ao Porto, são problemas acessórios, quando se fala do TGV. Porque o grande erro está feito. Nem tem remédio, nem desgraçadamente causa surpresa.