O moleiro ergueu o seu moinho à beira do rio, debaixo dum salgueiro. Um dia o rio cresceu, envolveu-o nos braços e levou-o. Ao moinho. E tudo voltou ao princípio.
O moleiro refez o seu moinho à beira do rio, debaixo do salgueiro. Quando o rio cresceu outra vez, enrolou-o nos braços e levou-o. Ao moinho. E tudo se repetiu.
O moleiro reconstruiu o moinho à beira do rio, debaixo do salgueiro. Mas o rio voltou a crescer, pôs-lhe os braços em volta e levou-o. Ao moinho.
Ora o moleiro tinha mais que fazer do que aturar os caprichos do rio. Tinha à espera, ansiosa, a freguesia. Em lugar do moinho fez um barco e varou-o à beira do rio, debaixo do salgueiro. E pôs-se a moer o grão.
Desde então, sempre que o rio crescia, roçava o dorso crespo na quilha do barco e passava de lado. E o moinho lá ficou a moer, a moer, até se gastar a mó.