domingo, 6 de março de 2016

Cristalinidades e meandros

Gosto muito da língua alemã, desde que a conheço mais ou menos bem. Pela exactidão que exprime. E ouvi, numa rádio qualquer, um poema dum alemão cujo nome não guardei. Logo em seguida uma tradução dele, lida por Luís Carlos Patraquim.
Fala por si, o contraste, eloquente como todos os contrastes. A despeito de tudo quanto aqui é pessoal, seja lícito concluir: a nossa língua é lirismo do mais puro, é melodia, é harmonia sonora, é música. 
Independentemente das artes poéticas que subjazem à Cantiga Partindo-se, do Florilégio de Resende, em que outra língua poderá ser dito isto com esta suavidade e este encanto, com tal requinte melódico? 
E isto de que índole nasceu? É efeito, ou causa, de quê, na nossa vida? É um piano, é mais o alaúde? É da oficina ou é da romaria? Com que meandros terá isto que ver, na nossa alma... na história?
Assim possamos nós gozar-nos dela, a nossa língua, que é a nossa mais-valia!

Senhora partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

Tão tristes e tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.

Partem tão tristes, os tristes,
tão fora de esperar bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

João Roiz de Castelo-Branco