quarta-feira, 30 de março de 2016

Um país de reais cafres, sem desprimor

Esta história roça a ficção, parece irrealidade e acaba num terror. Tão aterradora é que até confrange.
Numa aldeia atrás da serra, havia um dono e o cavalo dele. E havia também uma família na Suíça, a cumprir as tarefas que os suíços já desprezam. Era uma entre milhares.
No Verão passado veio a família à aldeia. E um dia a mãe pediu ao dono do cavalo que a deixasse cavalgá-lo. O dono não lho soube recusar. E logo a mãe pegou na filha pequena e lá montou. 
Entretanto chega o pai, de telemóvel na mão. Faz uma fotografia que será recordação. O cavalo viu um relâmpago (o do flash) e não gostou. Alçou as patas da frente e lançou a carga ao mar. O próprio bicho acabou por desabar, caiu sobre a criancinha e esmagou-a. A mãe lá sobreviveu, lavou-se em lágrimas e deixou a filha numa sepultura. 
A família voltou à Suíça e fez saber aos amigos, que ficaram consternados. Com caixinhas em cafés, restaurantes e supermercados, juntaram eles solidários óbolos, que a família recolheu. 
Pelo Natal voltou à aldeia, era mais que natural. Fez erigir num repente um jazigo de família, clandestino, improvisado, ilegal. Uma agência funerária recusou tomar a cargo a tarefa da exumação, dado o cadáver recente. Mas uns ciganos fizeram-na de noite, a preço de ouro, o de todas as tarefas impossíveis. 
Está lá tudo, no jazigo cinzentão, numa aldeia atrás da serra. Tudo ilegal, clandestino, tão inexistente como repentino. E com nome da família no frontão.
Primitivos e arrogantes, tão primários quanto irreflectidos, é assim que as elites nos mandam formatar e nos pretendem. Para seu governo e muito bom proveito.