segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Isto anda tudo ligado (3)


Não basta fotografar um púbis feminino, rabiscar-lhe por baixo o nome do artista, e despejá-lo no saco das artes plásticas, para termos à nossa frente um objecto estético, um fruto da criatividade.
Não basta riscar uns hieroglifos em quinze metros quadrados de papel costaneira, rubricá-los por um qualquer Sarmento, e vendê-los à colecção da FLAD que os colará no betão da parede dum museu, como formas de expressão artística.
Não basta encher um triciclo de carga com santinhas de Fátima fosforescentes, impingi-lo aos olheiros do comendador Berardo, e chamar-lhe arte contemporânea.
Não basta juntar um triângulo de pedras, ao lado dum quadrado de pedras, ao lado dum círculo de pedras, dizer que são obra dum criativo inglês, e estendê-los numa sala da Casa de Serralves, para edificação estética de novos públicos.
Não basta erguer um manipanso com fardos de palha, com tubos de plástico, ou com varas de salgueiro, chamar-lhe instalação e servi-la ao natural.
Não basta isto, nem aquilo, para eliminar a condição de farsante. Mas não se pode dizê-lo em voz alta, porque não rende e é perigoso. Por considerandos de estatuto, ou de carreira, ou de simples direito ao trabalho.