Em 2007, uma criação do génio plástico britânico Damien Hirst foi leiloada pela Sotheby's por 13 milhões de Euros. Hirst tinha então 42 anos, e nunca uma obra dum artista vivo atingira um tal valor no mercado da arte.
A peça chamava-se Lullaby Spring, e era nem mais nem menos do que um armário metálico de produtos farmacêuticos cheio de comprimidos pintados à mão.
Para o observador corrente, que de longe tropeça nas questões da expressão artística, uma tal circunstância perturba o senso comum, semeia perplexidades e convida à reflexão.
Nos anos 80, Hirst conheceu Charles Saatchi, um homem de negócios que era dono de uma das mais importantes agências de publicidade britânicas. E parece que as cabotinices artísticas de um casaram na perfeição com o sentido publicitário do outro. Em bom rigor, juntou-se a fome com a vontade de comer.
Porque logo em 1995 Hirst recebeu o prémio Turner, atribuído anualmente pelo museu Tate Britain. Ora o prémio Turner fora instituído por um grupo de mecenas criado por Saatchi, em colaboração com o Tate. A obra premiada chamava-se Mother and Child, e era um vitelo cortado ao meio, imerso numa solução de formaldeído.
Três anos depois a cotação artística de Hirst atingia os píncaros da fama, e o seu volume de negócios aumentava mil por cento. 100 € investidos numa obra de Hirst em 1997 valiam cerca de 700 € em 2007.
Entre as muitas perplexidades suscitadas pela arte contemporânea, a sua natureza de negócio especulativo não é a menor. Faz lembrar um subprime das artes. Na realidade, tudo nela parece funcionar num circuito fechado, que tanto mais atrai especuladores e crentes quanto mais inflaccionado for o valor das peças. Artistas, marchands, comissários, galeristas, coleccionadores e especuladores constroem uma rede de influências que legitima a arte e define o seu valor.
A Art Review edita anualmente o Power 100, onde cataloga as cem personalidades mais influentes no mercado da arte contemporânea. Em 2007, 19% eram artistas (com Hirst em 6º lugar); 31% eram coleccionadores; e 22% eram galeristas.
Assim é que a garantia de qualquer comprador não reside no valor do artista, nem sequer da obra. Antes se apoia na solidez da rede de frequentadores e devotos. Muito mais que a própria obra, vale quem dela se ocupa. E para ter êxito no mercado da arte não é necessário ser artista, pois que isso está ao alcance de qualquer espontâneo. O que é indispensável é saber vender-se. A desfaçatez transgressiva, o culto da seita privilegiada, o martelamento mediático e a rede de influências sociais e financeiras são os ingredientes do milagre.
O comprador da obra de arte contemporânea não oferece a si mesmo uma obra mas um preço. E quanto mais elevado o preço for, menor será a capacidade de a criticar. Porque os críticos, os especialistas, os entendidos na coisa não são mais do que pagens avençados, numa corte cujo rei vai nu.
A peça chamava-se Lullaby Spring, e era nem mais nem menos do que um armário metálico de produtos farmacêuticos cheio de comprimidos pintados à mão.
Para o observador corrente, que de longe tropeça nas questões da expressão artística, uma tal circunstância perturba o senso comum, semeia perplexidades e convida à reflexão.
Nos anos 80, Hirst conheceu Charles Saatchi, um homem de negócios que era dono de uma das mais importantes agências de publicidade britânicas. E parece que as cabotinices artísticas de um casaram na perfeição com o sentido publicitário do outro. Em bom rigor, juntou-se a fome com a vontade de comer.
Porque logo em 1995 Hirst recebeu o prémio Turner, atribuído anualmente pelo museu Tate Britain. Ora o prémio Turner fora instituído por um grupo de mecenas criado por Saatchi, em colaboração com o Tate. A obra premiada chamava-se Mother and Child, e era um vitelo cortado ao meio, imerso numa solução de formaldeído.
Três anos depois a cotação artística de Hirst atingia os píncaros da fama, e o seu volume de negócios aumentava mil por cento. 100 € investidos numa obra de Hirst em 1997 valiam cerca de 700 € em 2007.
Entre as muitas perplexidades suscitadas pela arte contemporânea, a sua natureza de negócio especulativo não é a menor. Faz lembrar um subprime das artes. Na realidade, tudo nela parece funcionar num circuito fechado, que tanto mais atrai especuladores e crentes quanto mais inflaccionado for o valor das peças. Artistas, marchands, comissários, galeristas, coleccionadores e especuladores constroem uma rede de influências que legitima a arte e define o seu valor.
A Art Review edita anualmente o Power 100, onde cataloga as cem personalidades mais influentes no mercado da arte contemporânea. Em 2007, 19% eram artistas (com Hirst em 6º lugar); 31% eram coleccionadores; e 22% eram galeristas.
Assim é que a garantia de qualquer comprador não reside no valor do artista, nem sequer da obra. Antes se apoia na solidez da rede de frequentadores e devotos. Muito mais que a própria obra, vale quem dela se ocupa. E para ter êxito no mercado da arte não é necessário ser artista, pois que isso está ao alcance de qualquer espontâneo. O que é indispensável é saber vender-se. A desfaçatez transgressiva, o culto da seita privilegiada, o martelamento mediático e a rede de influências sociais e financeiras são os ingredientes do milagre.
O comprador da obra de arte contemporânea não oferece a si mesmo uma obra mas um preço. E quanto mais elevado o preço for, menor será a capacidade de a criticar. Porque os críticos, os especialistas, os entendidos na coisa não são mais do que pagens avençados, numa corte cujo rei vai nu.