segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Ar do tempo - I

A arte segue sempre o ar do tempo, se antes o não antecipa. Enquanto expressão humana, nela se repercutem todos os aspectos da vida dos homens: religiosos, científicos, sociais, políticos, filosóficos, económicos, técnicos e materiais. E a sua história é uma eterna hesitação, quando não um conflito, entre polos antagónicos: o claro e o escuro, o apolíneo e o dionisíaco, a razão e o sentimento, o equilíbrio e a perturbação, o objectivo e o subjectivo, o conteúdo e a forma, a realidade e o sonho, a ordenação e o caos, o exterior e o interior, a certeza e a dúvida, a materialidade e a transcendência, o racionalismo e o seu contrário. Em cada período, segue o factor dominante. E esta ciclicidade é particularmente visível na literatura.
Deixemos de lado os tempos medievais, os últimos de fundo popular genuíno, que percorre outros caminhos. No Renascimento o homem conheceu globalmente a geografia do planeta. O sol foi o centro do sistema planetário. O antropocentrismo substituiu o teocentrismo medievo. O ideal estético era a harmonia e a justa medida clássica. O primeiro Classicismo foi um tempo do equilíbrio, da razão e do concreto. A própria criação artística obedecia a uma fórmula.
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