quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Críticos

Já um dia aqui se falou do prémio literário José Saramago 2009. Para dizer, em suma, que os embondeiros fazem mais falta, vivos, nas paisagens do mundo, do que imolados ingloriamente à pasta de papel. Que este romance é um arado, que em lugar de lavrar vai fazendo riscos pelo chão; ou a mó andadeira de um moinho a fingir, que mói, mói, mói, mas não deita farinha. Porque isto da literatura não é nada trigo limpo e farinha amparo, como boa gente pensa e o santo mercado exige.
O jovem autor voltou agora à carga com um trabalho novo, sobre o qual diz o crítico do Expresso estarmos perante um thriller, sujeito a um fator perverso. É a boa recepção que teve o anterior, o premiado, "construindo" o autor como uma das grandes revelações da literatura portuguesa, na ficção narrativa.
Isto por haver um desajuste gritante entre as auréolas antes "construídas", e a realidade do trabalho actual, porque não há nele nenhuma espessura.

Se projetarmos neste romance as aspirações literárias que lhe têm sido atribuídas, ele revela-se vazio e nem deixa que assomem as virtudes que lhe são próprias. Em suma: falha-se o objecto.

No final (...) do texto nada resta porque não há nele qualquer opacidade.

Em nenhum momento ele se fecha sobre si, de modo a que se possa ler outra coisa diferente daquilo que ele quer dizer.

(...) uma intriga que até parece ter sido engendrada para ser contada por outros meios.

Já um crítico do Público e outros espaços do meio, enquanto afina as trombetas, considera este o melhor dos romances do autor.
Para que nem tudo se perca, vamos agora saber: se englobarmos nós o júri do prémio Saramago, que invocou o nome dum deus em vão, quantos papagaios palradores povoam a peripécia?