domingo, 9 de outubro de 2011

Isto anda tudo ligado (2)


Ripostando a uma catilinária de Pacheco Pereira, sobre um certo regabofe parasitário em que se movem os produtores das artes contemporâneas, disse António Pinto Ribeiro, ensaísta e programador cultural, no PÚBLICO de 13AGO:

«O dr. José Pacheco Pereira estranha que se conceba e realize um espectáculo para cinco pessoas. Há espectáculos para cinco, para um, para dez, ou para centenas de espectadores, e não é pela quantidade de público que se determina a sua qualidade (...).»
[Por simples contraste, isso já as audiências da TVI nos tinham demonstrado. Era agora altura de explicar o que é que determina realmente a qualidade do espectáculo!]

«O dr. JPP deveria saber que a arte exige um pensamento sofisticado, e que, a pronunciar-se sobre ela, deveria ter estudado, visto, investigado».
[Pensamento sofisticado?! Duma elite ilustrada? Duma seita arrogante e autista?]

«Há alguns (artistas portugueses) muito pouco interessantes, e há obras que muitas vezes nos levam a lamentar o tempo passado a contemplá-las».
[E sobre a diferença que define essa perda de tempo, e aquilo que o não é, ficamos eternamente em branco?]

«(Os artistas portugueses) deveriam saber escrever bom português (...) mas não é isso que se espera deles: espera-se mais, espera-se que sejam capazes de transmitir a singularidade da sua obra, e para isso há especialistas que o fazem e bem... mas custa dinheiro. E portanto são eles (próprios) que o fazem (...)».
[Então e a obra não fala por si? Não tem vida e existência própria? Precisa da voz dum demiurgo, dum especialista que a explique? Que a justifique? Será que ela não existe? Ou é o público destinatário que não tem um pensamento suficientemente sofisticado para lhe captar a singularidade?]

«(O dr. JPP) deveria admitir a sua enorme ignorância em muitas matérias, e em arte em especial, e então talvez começar por estudar, ler, e voltar a estudar (...)».
[A seita da criação contemporânea bebe do fino. Não se chega lá com um copo na taberna, se é isso que estavam a pensar.]