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O largo do pelourinho, que era uma praça maior ali no cimo do outeiro, caiu há tempos nas mãos dum urbanista, para beneficiação. Ao pelourinho roubaram-lhe um degrau, lá lhes pareceu que não fazia falta. E acrescentaram ao largo, em cima dum pedestal, um busto do Venturoso, que foi rei de Portugal e do Algarve, da Índia, do Brasil e da Guiné, e visto o foral de Almendra, mandou que pagarão os moradores, em cada ano, no dia de S. Martinho, sete reais… É o mais que fazem, as ordenações d’el-rei.
A igreja matriz de Almendra guarda esplendores antigos e imponência pouco vista. Amparada em contrafortes, parece uma fortaleza. E associa um portal renascentista de 1565, e o rocaille aligeirado da capela-mor, à imponência da traça medieva, que mistura a gravidade do românico e a respiração do gótico. Na vastidão das três amplíssimas naves cabia a devoção dos fiéis todos, mesmo no tempo em que Almendra era rainha.
Nem palácios lhe faltaram, que era dois. Este, o dos condes de Almendra, uma honraria serôdia da mão de el-rei D. Carlos, tem a sisudez ensimesmada da casa grande burguesa. Já aquele, o dos viscondes do Banho, que foi concessão duma rainha antiga, padece as demasias do seu tempo. O espavento dos arabescos de pedra que lhe enfeitam os frontões nas fachadas dá-lhe um ar de teatro de bonifrates. Destoa no aglomerado, ali à beira da estrada. Mas por um qualquer sinal, às vezes uma verruga, se hão-de distinguir os homens.
Os dois solares vieram a ser cenário de dramas do romantismo tardio, se for verdade que o bom do romantismo escolhe idades. Estes dramas ficaram na memória, e eram matéria da pena do Camilo original. Na falta dele, contentou-se o viajante com o relato atamancado do Camilo anfitrião.
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