terça-feira, 19 de outubro de 2010

O cavalo do inglês

Há muito tempo que não ia às compras, porque deixei de comer. E ontem dei com as vitaminas todas no vermelho.
Logo de manhã fui-me à banca da fruta, numa dessas lojas que são vacas leiteiras a oferecer-nos as tetas.
Os diospiros chegam-nos de Espanha, as bananas e os abacaxis vêm do Equador, as mangas e as limas e as papaias do Brasil, os kiwis do Chile, os maracujás da Colômbia, as meloas de Israel, as toranjas da Sul-África. Espanha ainda nos manda os pêssegos, e as batatas, e os limões, e as clementinas, e as ameixas, e as anonas, e as romãs, e as uvas pretas, que as brancas vêm da Itália. As cebolas francesas tinham esgotado, e os alhos da China estavam a chegar. Portuguesíssimas só a pêra rocha, a maçã bravo de esmolfe, o melão branco e a melancia negra.
Será este despautério um antigo tributo, do mundo rendido ainda, e esmagado, pela nobre gesta da nossa cruz de Cristo?
Cada um fique no que lhe parecer. Cá para mim é tanta a esmola, que um pobre desconfia. O mais certo é termos à nossa espera o destino do cavalo do inglês. O tal que se finou no momento mais inoportuno, quando já tinha aprendido a não comer.