quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A grande farra

Lembro-me deles, há anos, todos juntos, a falar destes assuntos na capela de Santa Luzia. Chovia se Deus a dava! Mas lá estava o presidente da câmara, o delegado regional do IPPAR em Castelo Branco que pagaria a factura, e um renomado arquitecto, responsável pelo plano de valorização do património histórico da vila. Tratava-se da alcáçova do castelo, e de instalar na torre de menagem um miradouro virtual. E eu vi em tudo aquilo um acesso de febre que havia de passar. Um jogo de interesses e poderes em roda livre, deslumbrados todos com vagos conceitos de progresso, de futuro e de tecnologias novas. Isto pensava eu.
Pensava eu que havia de passar e enganei-me, porque a obra já está pronta. E lá fui visitar a alcáçova renovada. Dentro duma gaiola de madeira, duas assistentes esgrimiam contra o tédio, se não contra a solidão. Que podia, sim senhor, subir ao miradouro, ver imagens, ver paisagens, não havia entradas a pagar.
Subi o primeiro lanço da escadaria de ferro, uma espécie de máquina de guerra, daquelas torres de assalto das fortalezas antigas. Subi o segundo e o terceiro, e cheguei finalmente onde nunca tinha estado. O ponto mais elevado, e mais alto, de todo aquele planalto.
Tirei o sobretudo ao miradouro virtual, e achei-me frente a uma figura mista, entre a cadeira dum dentista e um viajante espacial. Em qualquer dos casos, fora de serviço.
Vesti-lhe outra vez o sobretudo e voltei à gaiola da entrada. Lá me disseram que uma vez valorizada, logo a alcáçova tinha sido assaltada.
E agora, que são horas de acabar, não sei se me dá para rir, se hei-de chorar.