Portaria do Ministério do Reino
Tendo chegado ao conhecimento de Sua Majestade El-Rei, por informação do governador civil de Lisboa, e publicações dos jornais, que no Casino Lisbonense, no Largo da Abegoaria desta capital, se celebram reuniões públicas com a denominação de "conferências" nas quais se tem feito uma série de prelecções em que se expõem e procuram sustentar doutrinas e proposições que atacam a religião e as instituições políticas do estado ... (...) ... que o governador civil de Lisboa não consinta as referidas reuniões e conferências... (...) ... sob pena de se proceder contra os transgressores na conformidade das leis.
Paço, em 26 de Junho de 1871 - Marquês d'Ávila e de Bolama
NOTA: Estas Conferências do Casino tiveram lugar há 150 anos. Enfim, as que se realizaram. Particularmente esta, de Antero de Quental, teve a lucidez e a ousadia de nos colocar diante dos olhos uma série de questões decerto polémicas, porém fundamentais para uma útil compreensão da nossa história e da nossa vida colectiva.
E no entanto, ao nível da nossa elaboração mental, é como se não tivesse existido.
Não é a primeira vez que ela é editada. Mas creio não andar longe da verdade, se pensar que 10% dos portugueses já a leram, mais 20% ouviram falar dela, e os restantes a desconhecem em absoluto. Em qualquer nível do ensino, ela não é objecto de atenção. Aqui ou ali, alguma fugidia e inócua referência.
Já a certeza de que, ao nível do poder, os marqueses d'Ávila e Bolama destes anos todos de bom grado assinariam a portaria da sua interdição, perante a nossa indiferença colectiva, é coisa que me causa nojo íntimo. Lá no fundo merecemos o que temos.