Não faltam manuais patrioteiros a falsificar a história, para nos dourarem a pílula. Nem discursos épicos de elites, a apregoar que Portugal foi pioneiro na abolição da escravatura. Porém a verdade é outra, mais desgraçada bastante. A lei de Pombal, de 19 de Setembro de 1761, proibia a importação de escravos apenas para Portugal. E não abolia a escravatura em Portugal nem no Império.
A proibição da importação para a Metrópole resultou da necessidade de toda a mão de obra escrava ser conduzida ao Brasil, onde havia muita falta, e do facto de em Portugal o ócio ser a principal ocupação dos portugueses.
O rei D. José é claro:
"Eu El Rey faço saber (...) que resultão do excesso e devassidão com que contra as leis, e costumes de outras cortes polidas se transporta anualmente da África, America, e Asia para estes Reinos um tão extraordinário numero de escravos pretos, que fazendo nos meus domínios Ultramarinos huma sensível falta para a cultura das terras e das Minas, só vem a este continente ocupar os lugares dos moços de servir, que ficando sem comodo, se entregam a ociosidade, e se precipitam nos vícios, que dela são naturais consequências (...)".
Portugal só em 1842 aboliu o tráfico escravo. E só em 1878 aboliu a escravatura.
Do séc. XV ao séc. XIX (em conjunto com o Brasil independente), foi responsável por 50% do tráfico transatlântico.
Só durante o séc. XVIII é que o tráfico negreiro inglês ultrapassou o português.
No séc. XIX fomos líderes mundiais, à frente de todos os outros países juntos.
O comércio da pimenta e o proselitismo católico trouxeram-nos a febre imperial. Quando a ambos juntámos a escravatura, quem ficou escravizado fomos nós.
A um destino incerto. A um fadário funesto. Ao naufrágio conhecido.