sexta-feira, 24 de julho de 2009

O governo da pólis

Santana Lopes dá-se ares de príncipe da Renascença. Duma estirpe assaloiada, pormenor que o não detém. Anteriores exercícios do poder reduziram-no a cinzas, mas ele renasce delas como a Fénix. No pós-moderno Olimpo em que se move, sabe que tudo é na vida imensamente relativo. E que é frágil a memória dos homens.
Abriu a campanha eleitoral com um ensaio sobre o governo da pólis. E erigiu em modelo o eng. Abecassis. Comove-o o engenho estético da Rua do Carmo repartida em hortas, talhada em jardinzinhos, dividida em canteiros, onde os lisboetas esplanavam. Quando o Chiado ardeu, os carros dos bombeiros não puderam entrar. Mas que raio de importância é que isso tem?! Só não erra quem não faz! Repõe-se a calçada, e pronto!
E o Pavilhão do Chá, cosmopolita e verde, disfarçado nas folhas das palmeiras, em frente do São Jorge?! Batiam nele os olhos e os pés dos transeuntes, confundiam-se os pombos, esbarravam nele os autocarros? Mas que importância tem isso? Indemniza-se um milhão de contos e tira-se o pavilhão!
O enorme arquitecto Frank Gehry dignou-se riscar-nos uns projectos que custaram dois milhões?! Que importa a sua inutilidade, se alguém os há-de pagar?
A última passagem do Zorro das autarquias pela câmara de Lisboa paralisou a cidade, aprisionou-a em calotes, deixou-a na bancarrota?! E que importância tem isso, quando já ninguém se lembra?
No interim, as esquerdas de Lisboa entretêm-se a tirar o cotão do umbigo. E eu havia de ter pena das gentes da capital, se não tivesse a desdita de ir às urnas na província.