É o que me faz lembrar a entrevista de Jerónimo de Sousa, ao JN de hoje. Não sei se pelo Partido, não sei se pelo regime que saiu de Abril, não sei se pelo que restava de esperança.
De como Jerónimo de Sousa, entre eufemismos, desaba no pensamento de Vasco Graça Moura, ou de João Pereira Coutinho.
“Muitas vezes acontece as pessoas dizerem: vocês defendem os trabalhadores, os mais pobres. Lutem lá por nós! É uma tristeza tremenda, porque não vemos forma de alterar as coisas, sem que as pessoas lutem pelos seus próprios direitos. Para nós é reconfortante ouvir estas mensagens de confiança, mas o mais importante seria que as pessoas assumissem ser protagonistas da própria vida”.
De como Jerónimo de Sousa, sem eufemismos nenhuns, desaba no pensamento de Manuela Ferreira Leite, de Pedro Passos Coelho e dum tal Relvas:
“- As sondagens não castigam o PS. Que leitura faz dos números?
- Foi criado um ambiente… diria de medo. Um bocado a ideia de que a Direita poderia ser pior. O PSD destapou algumas das suas propostas: a questão dos despedimentos sumários, de que quem tem direito a subsídio de desemprego depois vai ser penalizado na reforma. As propostas de privatização são muito idênticas às do PS (…) o que leva as pessoas a sentirem-se inquietas. Ainda há sectores que consideram que o PS é um mal menor”.
De como Jerónimo de Sousa desaba, com nuances, no cinismo de Paulo Portas:
“- A crise política era inevitável?
- A crise económica e social determinou muito da crise política, mas não era inevitável. O Governo não foi demitido, demitiu-se”.
De como Jerónimo de Sousa, em frente das eleições (e logo estas!) desaba no pensamento messiânico do pastor, e assenta no cepo o pescoço do cordeiro:
“- O Estado Social nunca mais será o mesmo?
- Em capitalismo, os direitos sociais nunca são assumidos perpetuamente; dependem sempre das relações de forças de cada momento. Hoje os trabalhadores estão a perder, mas para quem acredita que o mundo se move, para quem acredita que a evolução da humanidade vai no sentido do progresso, os trabalhadores hão-de recuperar aquilo que agora estão a perder”.