A forneira fez o ninho na caixa do contador da água. Parece imprevidência desleixada, mas a razão foi das chuvas. Duraram até tão tarde que ela não teve outra escolha.
Tem lá dois filhos que trata sem grandes luxos, porque sabe muito bem o mundo em que vive. Não lhes regateia mimos, e eles portam-se na linha.
Quando a mãe anda por perto, ou o pai, não sei ao certo, pôem-se a barafustar, a queixar-se da dieta. Já aprenderam que só mama quem chora. E expõem uns beicitos pintados de branco, abertos num exagero, não vá o cibo cair em saco alheio.
Logo que alguém se aproxima remetem-se ao silêncio, afundam-se no ninho, a casa fica vazia. E fingem-se de mortos sempre que lhes estendo um dedo metediço. Deixaram de existir.
Na hora do calor o mais velho sai do ninho, deixa o cadete respirar mais à vontade. E fica ali à beira, com algum sobressalto. Sabe que a vida não está para grandes ares. Sobretudo se forem condicionados.