O venerando e nocivo Presidente que temos, há tempos reeleito por uns tantos, escassos, portugueses, trazia ao peito um conjunto de indecorosas medalhas a ensombrar-lhe o retrato:
- as acções da SLN, que a seu tempo lhe trouxeram generosa mais-valia a sair do bolso dos contribuintes, e lhe chegaram a preços de favor, das mãos dum bando de gangsters e correligionários de partido;
- a conspirata de Belém contra o governo, em que uma tropa dos seus homens de mão montou a inventona triste das escutas de S. Bento;
- o patrocínio da pulhice do PEC4, da qual a direcção do PSD saiu a gaguejar, aos tropeções, desmascarada como canalha irresponsável (ou tens eleições no país ou no partido, é escolher!), sob o aplauso duma esquerda patética;
Tudo isso junto e resumido, em qualquer sociedade com respeito por si própria, era o bastante para custar ao venerando o lugar e a guarda de honra.
Mas nós estamos em Portugal, que é um país sui generis, como prova há muitos anos o Alberto João Jardim. E vinha no calendário a comemoração do ano 37 da nossa democracia. De modo que o acossado Presidente refugiou-se na querença natural, abandonou por momentos as faenas do Facebook e do site da Presidência, que é onde está o melhor que ele tem para dizer, e fez um movimento adequado: convidou a discursar os seus antecessores, para dissolver a voz nas vozes da multidão.
Porém a verrina anti-governo, o despeito anti-Sócrates, a trafulhice que vem de há muito tempo, a calúnia difamatória, o assassinato de carácter, a sonsice dos impotentes, tudo isso está presente na oratória do venerando, a qual faz eco dos vários mantras conhecidos:
"Os portugueses não se revêem num estilo agressivo de actuação política, feito de trocas constantes de acusações e tensões permanentes."
Leia-se o primeiro mantra: o carácter determinado, resistente, obstinado, casmurro, teimoso e intratável de Sócrates é o único responsável pelos nossos problemas. Fizesse ele como Cristo, e oferecesse à canzoada a outra face, e o mundo seria há muito tempo um mar de rosas!
"Não podem ser feitas promessas que não poderão ser cumpridas".
Leia-se o segundo mantra: Os males nacionais são fruto da propaganda de Sócrates, que não tem feito outra coisa senão impingir-nos o elixir da longa vida!
"Dos agentes políticos exige-se que actuem com transparência e com verdade".
Leia-se o terceiro mantra: Sócrates é um mentiroso compulsivo, que não merece confiança nem tem credibilidade!
"Vender ilusões ou esconder o inadiável é travar a resolução dos problemas que nos afligem".
Leia-se o quarto mantra: Sócrates não passa dum aldrabão, que resistiu quanto pôde à entrada do FMI, sacrificando ao seu próprio orgulho a nossa querida Pátria!
E assim o venerando Presidente toma parte na intoxicação geral da populaça: a intoxicação dos publicistas sem ética nem escrúpulos, a dos comentadores que perverteram a função, a da comunicação social ao serviço do dono, a duma esquerda vesga que ensaia o haraquiri.
É evidente que Sócrates não está isento de pecado. Mas, por este caminho, somos nós que acabamos no inferno. Como, de resto, sempre aconteceu! Nós é que não guardamos a memória!