Hoje a nata da nação vive em fortins, em condomínios blindados, em palacetes com vista para o estuário. São-lhe parte na família, e adornam-lhe o pedigree, alões de raça apurada, e gatos que se depilam a laser.
Naquele tempo a nata da nação resumia-se a um grupo de aviadores aspirantes. Não mais que trinta chavalos duma escola militar, que repartiam uma camarata na Granja do Marquês.
Um padre dava lições de deontologia militar. Era um fascista retinto, com aguçadas dentuças de lupino, e a mais-que-perfeita persona dum cordeiro. Falava-nos do dever, entre sorrisos cúmplices, do culto da autoridade, dos mais ínclitos desígnios da nação, da pesadíssima história, e do nosso desconforme privilégio. Eleitos, não mais que trinta, entre milhões, era nossa a condição que a mais ninguém cabia: dominar os mil relógios dum cockpit, à velocidade do som.
Para quê recordar agora o que depois sobreveio? Não fomos, dizia o padre, a nata da nação?!