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De preferência a confiar os destinos da França e da Europa às forças democráticas, a reacção francesa optou deliberadamente pela aceitação da derrota às mãos do fascismo germânico. Disse alguém, há muito tempo: “Onde tens o teu tesouro, aí terás também o coração”. Segundo se pensava, somente o triunfo alemão asseguraria, pelo menos durante algum tempo, a sobrevivência na Europa de uma ordem social que Hitler representava na Alemanha, Mussolini na Itália, Franco em Espanha, e Pierre Laval e Philippe Pétain na França.
Nenhuma tentativa se fez para estimular a resistência do exército francês. Generais abandonavam importantes postos e linhas de defesa sem sequer envidar um esforço para cortar o avanço aos invasores. Desviava-se propositadamente o rumo dos comboios carregados de munições. Dezenas de chefes militares abandonaram as tropas aos seus próprios recursos, sem planos de defesa ou de ataque. Não houve batalhas. A Batalha da França é um mito, prova-o a lista de baixas dos nazis. Dos três ou quatro mil aviões existentes, apenas mil entraram em acção. Os alemães atravessaram as linhas francesas em motocicletas; em muitos pontos formavam uma única fila simples. No espaço de dez dias, o mais brilhante exército da Europa ficara transformado numa multidão caótica, tomada de pânico, a recuar em desordem antes mesmo de ter estabelecido contacto com o grosso das tropas alemãs, que não chegou a entrar em combate, salvo para esmagar a Força Expedicionária Britânica, que os seus aliados tinham abandonado.
Quando se tornou patente que nenhum poder terrestre poderia conter a debandada, quando a confusão e o pânico reinavam por toda a parte, o atemorizado Daladier passou as rédeas do governo a Reynaud, que por seu turno chamou Pétain e Weygand para executarem a tarefa que a reacção nunca poderia levar a cabo em circusntâncias normais, isto é: vestir a camisa de forças do fascismo ao povo francês, pasmado e atónito.
Thierry Meulnier, escritor clerical-fascista, apontou, franca e brutalmente, os motivos fundamentais que levaram a burguesia, os clérigos e o alto comando a reduzir o povo francês à servidão, quando escreveu, para justificar a capitulação de Munique: “Uma vitória das armas francesas seria menos uma vitória para a França do que uma vitória dos princípios que com justiça se reputa conduzirem directamente à ruína da França e da própria civilização”.
Referia-se aos princípios democráticos!