O sr. Ruas, autarca de Viseu, é o presidente da associação de municípios. E tem-se feito notar, enquanto espécimen emblemático e incontornável da ilustração indígena.
Notabilizou-se, pela primeira vez, quando exigiu que Lisboa lhe desse também um estádio, para o Euro 2004. Na bebedeira geral, não queria o autarca ver o seu povo interior discriminado.
Depois tornou-se notável, pela segunda vez, quando aconselhou o povo a correr à pedrada os fiscais do ambiente. Porque esses filhos da puta só emperram a vida a quem quer fazer obra e trabalhar.
Mais notável se tornou, pela terceira vez, alguns anos depois. À vista da ruína do orçamento de Aveiro, do orçamento de Leiria, do orçamento de Faro, e dos outros orçamentos que aqui não vão mencionados, confessou-se disposto a ir a pé a Fátima, agradecer à Virgem o excelente milagre de não ter em Viseu nenhum estádio do Euro. E disse isto com o mesmo ar contente de quem bota abaixo mais um quartilho de tinto.
Agora outra vez se notabiliza, por uma carta que mandou à troika dos agiotas.
Também ele quer ser ouvido, e tem as suas razões: repudia responsabilidades dos municípios na caloteirice geral; os municípios não andam a dormir; nada tiveram que ver com a situação de crise; e em vez de cortes orçamentais, merecem elogios.
Ora é sabido que a maior parte dos municípios esgotou há muito a capacidade de endividamento. É sabido que muitos deles trazem às costas dívidas que não pagarão, alguns mesmo à beira da bancarrota. É sabido que já falta pouco para começar a encerrar equipamentos que não têm uso nem é possível manter, porque são o fruto espúrio duma megalomania irresponsável, da febre de fazer obra para ganhar as eleições: piscinas quentes e frias, que nenhuma energia irá alimentar; pavilhões que albergam moscas; centros culturais onde não há quem entre; instalações desportivas em que os pardais se recreiam.
Foi por isso que inventaram a encefalopatia espongiforme. Para explicar casos assim.