terça-feira, 5 de abril de 2011

Mais vale tarde... 13 - A guerra "civil"

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Durante o mês de Abril de 1935 houve uma série de conferências no Ministério dos Negócios Estrangeiros de Berlim e no Hotel Adlon, da mesma cidade, às quais compareceram o Dr. Alfred Merton, presidente da Metalgesellschaft, o monopólio do aço de Francforte-sobre-o-Meno; o Dr. Edward Kloene, do consórcio metalúrgico alemão que tem o seu nome; o Dr. Ludwig von der Porten, chefe do trust Rheinmetall, de Düsseldorf; o Dr. Hjalmar Schacht, ministro dos negócios económicos do gabinete de Hitler; o Dr. Krupp von Bohlen, do monopólio de canhões de Essen; o Dr. Friederich Opel, presidente das Fábricas de Motores Opel; representantes da Siemens & Halske, fabricantes de tanques, representantes das fábricas de carabinas Vulkan, e três directores da Farben Aktien Gesellschaft, o colossal trust químico alemão; além destes, o sr. Gil Robles, chefe do partido agrário clerical-fascista da Espanha; o sr. Juam March, banqueiro espanhol e agente duma companhia de navegação; o general Sanjurjo, cabeça de um putsch militar abortado contra o regime republicano espanhol, que vivia exilado em Portugal; e finalmente o general Ingeniani, director da mobilização industrial da Itália; o sr. Guido Mazzolini, chefe do departamento comercial do Ministério do Exterior italiano; o coronel Benni Stefano, do estado-maior italiano, e o sr. M. Giurati, director do departamento de negócios estrangeiros do partido fascista italiano.

Foram estes cavalheiros notificados pelo Dr. Merton de que, com a aprovação do governo espanhol, então chefiado pelo sr. Alejandro Lerroux, se estava agenciando a formação de um consórcio internacional para explorar os recursos minerais da península ibérica, inclusive de Portugal e dos domínios coloniais do Marrocos Setentrional. (...)

Tenho diante de mim as minutas de outra conferência havida no Ministério dos Negócios Económicos a 21 de Abril, e ainda outras dos acordos assinados durante aquele mês do ano de 1935 entre as diversas corporações atrás mencionadas e o governo espanhol. Esses papéis, de autenticidade incontroversa, foram fornecidos por um banqueiro internacional de Paris, que se fez representar indirectamente nas conferências de Berlim. (...)
Os pactos para a exploração intensiva de todos esses territórios, tanto na península espanhola como na África, fixando a repartição do custo e os quinhões que a Alemanha e a Itália teriam nos rendimentos, foram finalmente assinados com os proprietários no mês de Janeiro de 1936.
Entretanto, em Fevereiro desse mesmo ano, os partidos políticos coligados na Frente Popular triunfaram nas urnas (...). Uma das primeiras reformas empreendidas pelo novo governo espanhol foi a nacionalização das minas. Quando chegou a Berlim a notícia da vitória da Frente Popular, os planos da execução do contrato foram arquivados provisoriamente. (...)
Em vez de renunciar aos recursos ilimitados que ofereciam as minas da Ibéria e do Riff, Hitler chamou o general Sanjurjo, de Lisboa onde vivia exilado, a Berlim, em Março de 1936, e foi então que se engendrou o plano da insurreição militar contra a República, com o auxílio do Führer e de Mussolini. (...)
Em Dezembro de 1936 a Alemanha teve a satisfação de receber os primeiros carregamentos de minério de ferro do Marrocos espanhol, e um ano depois, além de se achar empossada das minas asturianas, mandava Franco, em troca de tanques, de artilharia, de aviões Junker e munições, colocar nos portos alemães um milhão de toneladas de minério: antimónio, estanho, cobre e lignite, até ao fim de 1939. (...)

[O resto foram os interesses das elites dirigentes inglesa e francesa que o fizeram. Foram os povos europeus que o sofreram e pagaram. E foi a América que mais lucrou com ele]