Com vénia ao dr. Luís Queirós
Presidente da Marktest e membro da ASPO Portugal
Estive há dias no Museu da Electricidade, onde assisti à conferência, promovida pelo “Sol”, sobre “Economia, Ambiente e Sustentabilidade”. O que me levou lá foi o meu interesse em ouvir o professor Ernâni Lopes. E valeu a pena, pois assisti a uma lição magistral. Mas não foi com a sua dissertação sobre economia que o professor mais me impressionou. Acima de tudo foi a atitude de uma pessoa sábia e humilde, que questionou o “direito” do homem destruir o ambiente, pois que o “poder” adquiriu-o ele já há bastante tempo: primeiro, com o “clarão” de Hiroshima em 1945; e depois, com a descoberta do ADN em 1960. No primeiro momento tornou-se evidente o poder da destruição cega e massiva, e no segundo a capacidade de manipular geneticamente o genoma dos seres vivos.
Falou o professor do capitalismo, que disse ter “nascido” em 1776, no ano da publicação da "Riqueza das Nações" de Adam Smith, e que foi também o ano da independência da América. Capitalismo cujo desenvolvimento foi alimentado pela primeira revolução industrial, e que foi causa e efeito de inúmeras conquistas tecnológicas (daí poder chamar-se-lhe uma revolução!). Mas conseguidas à custa da contínua e progressiva destruição do ambiente, acrescentou ele. Assistimos agora a um ponto de viragem, pois já nos demos conta de que o ambiente não pode mais continuar a ser destruído. Antes pelo contrário, precisamos de o reconstruir e de recuperar os estragos. E essa reconstrução, para o conferencista, abre uma nova e grande oportunidade ao capitalismo. Considera ele que o capitalismo sempre foi capaz de "dar a volta por cima” às dificuldades, e até foi capaz de transformar derrotas em vitórias, e falhanços em novas oportunidades.
Discordando eu desta conclusão, disse-lho no curto debate que seguiu. Como poderá o capitalismo passar de destruidor a protector? Poderá o lobo, devorador de cordeiros, transformar-se, como que por encanto, no seu criador e protector? A destruição do ambiente pelo capitalismo, é, na minha opinião, a afirmação do seu “instinto” predador, a forma de garantir a sua sobrevivência. Afinal consumir é, na nossa economia capitalista e liberal, sinónimo de destruir.
Ernâni Lopes acredita que a tecnologia (para ele o grande trunfo do capital) pode mudar o mundo, e pode até resolver o problema energético. Chegou mesmo a afirmar que a “economia” encontrará, quando for necessário, um substituto para o petróleo. E, quando se falou de “colapso”, ele acusou o toque, e confessou que conhecia os casos enunciados por Jared Diamond no seu famoso livro, com aquele nome, e recentemente traduzido para português. Mas que discordava do autor sobre as razões dos vários exemplos de “colapso” apresentados no livro (incluindo o famoso exemplo da Ilha da Páscoa). Considera ele que a verdadeira causa foi a incapacidade dos intervenientes para encontrar soluções tecnológicas para os resolver.
O que me separa aqui conferencista são os princípios da termodinâmica: a tecnologia não cria energia, aliás, a energia não se cria (1º princípio); apenas se transforma, e mesmo a transformação nunca é gratuita (2º princípio).
Mas este pormenores não retiram nada ao essencial da conferência, nem reduzem o seu interesse. Ernâni Lopes explanou conceitos que nos fazem pensar, tais como a diferença entre política, doutrina e ideologia. Lembrou que, na escala do nosso relacionamento com o mundo (a Weltanschauung), a sabedoria sobrepõe-se ao conhecimento, o qual por sua vez se sobrepõe à informação e aos dados. Nas sua dissertação revelou-se um sábio, descomprometido e humano, e demonstrou possuir uma grande inteligência. E assumiu, com humildade, uma atitude quase religiosa perante o mundo e perante a vida.