sábado, 31 de julho de 2010

Esperar demais

A senhora ministra da Cultura é figura façanhuda, embora à primeira vista não pareça. Na mesma inauguração do museu dos cavalinhos, (o tal de que ninguém sabe bem o que fazer, salvo uma escassa trupe de agentes culturais iluminados, que confundem vida real e quimeras pós-modernas), armou-se dum capacete de mestra-de-obras, enfiou umas galochas de sapador, não sem prevenir, quiçá, umas quantas acções da empresa de electricidade. Para depois assegurar, do alto do pedestal, que a classificação da linha do Tua como património nacional não impedirá a EDP de a sepultar nas águas. É uma garantia que podemos dar!
Ora é tal e qual aí que o problema se centra!
Nenhum espírito que viva com os pés na terra pode desconhecer a dimensão dos problemas da energia, que o ar condicionado da senhora ministra não dispensa. E eles só podem agravar-se num futuro breve.
É por isso que a heresia de construir uma barragem pode bem ser um gesto inevitável e sensato, ao contrário do que pregam visionários idiotas. Depende do compromisso que ela implica, entre aquilo que se ganha ao fazê-la, e o que se perde deixando de a fazer.
O voluntarismo irresponsável da suspensão da barragem do Côa (onde um razoável compromisso era possível) abriu à EDP o caminho para o vale do Sabor e para a linha do Tua (onde nada se salva do naufrágio). É dum património incalculável e único que estamos a falar, quer em termos nacionais, quer em termos europeus.
Seria de esperar que a ministra da Cultura, ao analisar tão delicadas questões, fizesse melhor do que um vulgar mestre-de-obras. Quem havia de dizer que era esperar demais!